Confesso que muitas vezes, em locais públicos, presto atenção nas ações e conversas alheias. Quem nunca fez isso pode ficar à vontade pra me condenar. Hoje, na fila do mercado presenciei uma cena que me emocionou e me deu o que pensar.
Estavam bem atrás de mim, na fila, um homem, mais ou menos da minha idade e um garoto, seu filho, que me pareceu ter uns 10 ou 11 anos. Conversavam normalmente e pude ouvir tudo o que falavam enquanto a fila não andava. Entre outras coisas, o menino perguntou: "Pai, tem suco em casa?", ao que o pai respondeu que devia ter de um sabor só, mas que iriam fazer compras na semana que vem, quando a mãe voltasse. Compreendi que a mãe estava viajando e aquele pai e o filho passavam um tempo sozinhos, por conta própria. Foi então que aconteceu a parte que me tocou. De repente os olhos do garoto brilharam e ele disse: "Tive uma ideia!". Falou isso reforçando longamente cada sílaba, daquele jeito que as crianças fazem quando querem contar algo que julgam muito empolgante. Ele estava convencido, tinha tido uma ideia incrível, a melhor ideia do mundo. Diante do olhar curioso do pai (e do meu), ele continuou: "a mamãe vai chegar à tarde no domingo, não vai?" O pai confirmou e então ele se aproximou pra contar baixinho o seu segredo, talvez por perceber minha proximidade e não querer partilhar sua grande ideia com um estranho. Sua intenção não foi totalmente bem sucedida porque o pai logo continuou em voz alta: "Pizza? Não filho, não vai dar, pela hora que ela chega vai ficar complicado. A gente vai esperá-la no aeroporto e vamos comer por lá mesmo". O pai disse isso com muito carinho, mas eu percebi que os olhos do menino se apagaram um pouco. "Que pena" - ele continuou - "eu queria fazer uma surpresa pra ela. A gente podia deixar a mesa pronta e quando ela chegar e olhar o que a gente fez vai ficar contente". O pai passou então a explicar porque aquilo não era uma boa ideia. Iam ficar muito tempo longe, ia ficar tarde, iam ficar com fome, a pizza iria esfriar até chegarem. O menino ainda insistiu uma vez, falou que podiam deixar a pizza semi-pronta e esquentar ao chegar. Foi então que a fila andou e eu parei de escutar a conversa deles, mas não parei mais de pensar nisso. Fiquei com vontade de falar com aquele pai, dar os parabéns por ele ter um rapazinho tão atencioso. E também dizer para o menino que ele tinha tido mesmo uma ideia incrível, a melhor ideia do mundo! Concordar com ele que a sua mãe iria adorar saber que seu garoto planejava recebê-la com honras que se reservam às pessoas de quem a falta é muito sentida. E também queria dizer para aquele pai que ele devia embarcar na viagem. Alimentar no filho essa atenção. Pois nem todo mundo sabe demonstrar o amor com tanta naturalidade e a razão tem o poder irritante de calar esses momentos. Talvez o pai pudesse adaptar os planos, trocar a pizza por flores ou por uma sobremesa gostosa. Queria ter dito a ele que em certos momentos a gente precisa deixar os argumentos adultos se calarem e embarcar, com toda a empolgação de uma criança, na simples realização de um plano. Posso estar sendo injusto. O carinho com que aquele pai falava com o filho me faz pensar que ele iria dar um jeito de acolher seu desejo.
O fato me fez pensar muito em mim mesmo. Quantas vezes não fui eu a pessoa que teve uma ideia maravilhosa que foi logo esfriada por argumentos racionais? Quantas vezes não fui eu a pessoa que advertiu tão racionalmente que a pizza iria esfriar? Quantas vezes eu não fui o pai e o filho ao mesmo tempo e apaguei meus próprios planos geniais por pensar demais?
Tudo isso fez com que eu me sentisse um pouco contraditório. Hoje mesmo há mais de uma pessoa na minha vida que adoraria ser recebida por uma mesa posta, um abraço apertado ou qualquer outro sinal de que me lembro delas. Duvido que qualquer pessoa não passe por isso com alguém. Um amigo ou amiga que não se vê faz tempo, aquela tia que a gente gostava tanto, mas faz tempo que a gente não vê, a irmã que mora longe ou aquela pessoa especial que ainda não deu certo, ou cuja história acabou, mas por quem ainda resta a afeição. Todo mundo é capaz de se lembrar de um monte de gente assim. E mesmo sentindo vontade de fazer uma grande surpresa pra essa pessoa e fazer por ela algo que diga, "você é importante pra mim", a gente acaba deixando pra lá, talvez por preguiça, por achar que é tarde demais, ou cedo demais, ou simplesmente porque a gente calou por tempo demais aquela criança que dizia com um olhar brilhante e sentia o sabor de cada sílaba: "eu tive uma ideia incrível!"
Estavam bem atrás de mim, na fila, um homem, mais ou menos da minha idade e um garoto, seu filho, que me pareceu ter uns 10 ou 11 anos. Conversavam normalmente e pude ouvir tudo o que falavam enquanto a fila não andava. Entre outras coisas, o menino perguntou: "Pai, tem suco em casa?", ao que o pai respondeu que devia ter de um sabor só, mas que iriam fazer compras na semana que vem, quando a mãe voltasse. Compreendi que a mãe estava viajando e aquele pai e o filho passavam um tempo sozinhos, por conta própria. Foi então que aconteceu a parte que me tocou. De repente os olhos do garoto brilharam e ele disse: "Tive uma ideia!". Falou isso reforçando longamente cada sílaba, daquele jeito que as crianças fazem quando querem contar algo que julgam muito empolgante. Ele estava convencido, tinha tido uma ideia incrível, a melhor ideia do mundo. Diante do olhar curioso do pai (e do meu), ele continuou: "a mamãe vai chegar à tarde no domingo, não vai?" O pai confirmou e então ele se aproximou pra contar baixinho o seu segredo, talvez por perceber minha proximidade e não querer partilhar sua grande ideia com um estranho. Sua intenção não foi totalmente bem sucedida porque o pai logo continuou em voz alta: "Pizza? Não filho, não vai dar, pela hora que ela chega vai ficar complicado. A gente vai esperá-la no aeroporto e vamos comer por lá mesmo". O pai disse isso com muito carinho, mas eu percebi que os olhos do menino se apagaram um pouco. "Que pena" - ele continuou - "eu queria fazer uma surpresa pra ela. A gente podia deixar a mesa pronta e quando ela chegar e olhar o que a gente fez vai ficar contente". O pai passou então a explicar porque aquilo não era uma boa ideia. Iam ficar muito tempo longe, ia ficar tarde, iam ficar com fome, a pizza iria esfriar até chegarem. O menino ainda insistiu uma vez, falou que podiam deixar a pizza semi-pronta e esquentar ao chegar. Foi então que a fila andou e eu parei de escutar a conversa deles, mas não parei mais de pensar nisso. Fiquei com vontade de falar com aquele pai, dar os parabéns por ele ter um rapazinho tão atencioso. E também dizer para o menino que ele tinha tido mesmo uma ideia incrível, a melhor ideia do mundo! Concordar com ele que a sua mãe iria adorar saber que seu garoto planejava recebê-la com honras que se reservam às pessoas de quem a falta é muito sentida. E também queria dizer para aquele pai que ele devia embarcar na viagem. Alimentar no filho essa atenção. Pois nem todo mundo sabe demonstrar o amor com tanta naturalidade e a razão tem o poder irritante de calar esses momentos. Talvez o pai pudesse adaptar os planos, trocar a pizza por flores ou por uma sobremesa gostosa. Queria ter dito a ele que em certos momentos a gente precisa deixar os argumentos adultos se calarem e embarcar, com toda a empolgação de uma criança, na simples realização de um plano. Posso estar sendo injusto. O carinho com que aquele pai falava com o filho me faz pensar que ele iria dar um jeito de acolher seu desejo.
O fato me fez pensar muito em mim mesmo. Quantas vezes não fui eu a pessoa que teve uma ideia maravilhosa que foi logo esfriada por argumentos racionais? Quantas vezes não fui eu a pessoa que advertiu tão racionalmente que a pizza iria esfriar? Quantas vezes eu não fui o pai e o filho ao mesmo tempo e apaguei meus próprios planos geniais por pensar demais?
Tudo isso fez com que eu me sentisse um pouco contraditório. Hoje mesmo há mais de uma pessoa na minha vida que adoraria ser recebida por uma mesa posta, um abraço apertado ou qualquer outro sinal de que me lembro delas. Duvido que qualquer pessoa não passe por isso com alguém. Um amigo ou amiga que não se vê faz tempo, aquela tia que a gente gostava tanto, mas faz tempo que a gente não vê, a irmã que mora longe ou aquela pessoa especial que ainda não deu certo, ou cuja história acabou, mas por quem ainda resta a afeição. Todo mundo é capaz de se lembrar de um monte de gente assim. E mesmo sentindo vontade de fazer uma grande surpresa pra essa pessoa e fazer por ela algo que diga, "você é importante pra mim", a gente acaba deixando pra lá, talvez por preguiça, por achar que é tarde demais, ou cedo demais, ou simplesmente porque a gente calou por tempo demais aquela criança que dizia com um olhar brilhante e sentia o sabor de cada sílaba: "eu tive uma ideia incrível!"
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