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Mostrando postagens de junho, 2015

O serrador

Foi no início de uma manhã de sábado que cheguei ao vilarejo. No dia seguinte teria que viajar para a capital, onde o congresso aconteceria. Sabendo que não era um desvio muito longo, aproveitei a viagem para passar na vila que conhecia de muitas histórias. Teria um dia inteiro para andar pelas ruas que os pés do meu avô haviam pisado pela última vez há mais de sessenta anos e, quem sabe, encontrar ali algo que me fizesse sentir que ele ainda estava comigo. Da vilinha da infância eu só tinha ouvido falar pelas histórias que ele contava e dela só sabia o nome. A família toda tinha mudado pra São Paulo quando ele era jovem. Nunca mais voltaram nem para visitas. Mas a pequena cidade foi junto com ele por toda a vida. No jeito de falar, no amor pela terra e no artesanato que fazia. Era só quando eu ia até lá que ficava hipnotizado brincando, enquanto ele me contava histórias da pequena vilinha de São Bento. Foi em uma dessas visitas que eu soube da única namorada que ele teve além da

Naquele apartamento

Lembro bem daquela tarde. Era um dia na década de setenta. Só não sei bem o ano. 77, 78 talvez. Estávamos eu e o Fábio na casa da Luciana. O pai dela era dono de uma agência de turismo e a família morava em um apartamento bem grande na Alameda Casa Branca. Estávamos fazendo um trabalho de OSPB. Era uma daquelas bobagens ufanistas da época. Tinha sempre uma frase de efeito ou um slogan que as pessoas colavam nos carros ou uma canção que ficava aparecendo toda hora na TV. “Eu te amo, meu Brasil”, “Esse é um país que vai pra frente”, “Brasil, ame-o ou deixe-o”. A moda da vez era um cata-vento verde-amarelo e uma canção dos incríveis: “O Brasil é feito por nós”. E nós três fomos à casa da Lu fazer o trabalho: montar um monte de cata-ventos e distribuir entre as crianças menores que iriam representar nossa escola no desfile de 7 de setembro. A professora deu para cada grupo um monte de folhas de cartolina de duas faces: uma verde e outra amarela. Nós tínhamos que fazer quadrados, depois co